Enquanto conduzia para norte, debaixo de chuva, de Sintra para Águeda, na quinta.feira, apenas cinco dias depois do grande temporal que destruiu parte do património que me é mais querido: as minhas grandes irmãs ÁRVORES. Fui entristecendo enquanto o cenário de beira de estrada desfilava perante o meu olhar incrédulo.
Foi como deixar de acreditar no pai natal, perceber que afinal as árvores não morrem de pé.
Gigantes prostrados e indefesos, desenraizados, imóveis, consumidos pelo peso de um silêncio escuro e tristonho, de quem sabe, que ao seu redor várias outras espécies arbóreas foram também fustigadas pela fúria impiedosa do vento. Caladas para sempre, largadas abruptamente a um novo ciclo que será terra, musgo, fogo, fumo ou água, quem sabe... Árvores não serão nunca mais. Ou talvez sim, talvez tenham deixado descendência. Pousadas, aguardando nova vida as sementes esperam o tempo certo para recomeçarem um novo ciclo de 300, 400 ou 500 anos.
O certo é que por muito que racionalmente entenda os ciclos da vida, ver tanta árvore monumental derrubada no chão, aperta o coração e, no meu caso, confrontou-me com a realidade vulnerável, frágil e efémera de todas as raízes incluindo as minhas.
No parque de Alta Vila em Águeda, tapetes de musgos, aconchegam as árvores como se fossem mortalhas delicadas e macias num adeus estranhamente horizontal.