A Artemísia dos Caminhantes
Introdução
Artemísia vulgaris é uma planta composta, vivaz da
família das Asteráceas. Chega a atingir 1,5m de altura, tem o caule lanoso,
muito ramificado, folhas muito recortadas de cor verde prateado, pequenas
sumidades floridas de cor amarelo dourado que poderão ser colhidas no princípio
da floração. Cresce um pouco por todo o mundo, terrenos baldios, bermas de
estrada e até mesmo alta montanha mas prefere as zonas quentes perto do mar.
Existem cerca de 300 espécies de artemísias todas elas com propriedades
semelhantes, as mais comuns são Artemísia absinthium ou losna que em
inglês é wormwood, em francês armoise, a espécie Artemísia
vulgaris conhecida também por erva-sagrada ou mãe-das-ervas, mugwort em
inglês e ainda a Artemísia drancunlus ou estragão. Nos Açores a
artemísia é conhecida por rainha-das-ervas. Na Ásia, onde foi introduzida por
erva-do-fogo devido à sua utilização em tratamentos de mocha na medicina
chinesa (método que consiste na estimulação dos pontos vitais da pele feita
através de pequenos cones de ervas aquecidos). É ainda conhecida como
erva-dos-caminhantes pois acredita-se que colocando algumas folhas de artemísia
nos sapatos ou mascando um pouco isto ajuda a combater a fadiga e o cansaço nas
longas caminhadas protegendo ao mesmo tempo os caminhantes de maus-olhados e
bruxarias. Artemísia está associada à deusa grega Artemis ou Diana para os
romanos que era a deusa da natureza, da lua e da caça, protectora das mulheres
e dos problemas femininos relacionados com a fertilidade. É uma planta muito
associada à magia, os gregos e os romanos utilizavam-na para invocar o espírito
dos mortos. Na Europa antes do cristianismo, usavam-na na incineração dos
cadáveres, os cristãos vieram mais tarde utilizá-la na decoração dos caixões e
plantá-la nas campas, daí a sua associação com a melancolia. Era ainda muito
utilizada nos jardins dos mosteiros da Idade Média. Faz parte das nove plantas
sagradas dos anglo-saxões. Está ainda associada aos sonhos e acredita-se que um
saquinho de artemísia colocada debaixo da almofada ajuda a ter bons sonhos e a
afastar pesadelos. Antes da utilização do lúpulo para aromatizar a cerveja
usava-se a artemísia.
Propriedades
Devido ao seu sabor extremamente amargo, a artemísia é um
potente vermífugo, um estimulante digestivo ajudando na produção dos sucos
gástricos e melhorando o funcionamento do fígado e pâncreas estimulando o
apetite, aliviando doenças hepáticas com náuseas e enxaquecas, cólicas,
flatulência e anemia. Os azulenos que contêm são anti-inflamatórios ajudando a
combater febres, quando aplicado em compressas sobre a testa ou ingerido em
forma de tisana. As compressas ajudam ainda a combater dores reumáticas e gota.
Regulariza o período menstrual induzindo a menstruação, sendo, portanto, um
abortivo. Diz-se que o sabor amargo da artemísia aclara os olhos e a mente.
Ajuda ainda a combater a doença de Parkinson e alguns tipos de malária, pois
contém artemisina, substância recomendada pela Organização Mundial de Saúde
(WHO). É suavemente anti-depressivo, repelente de traças e pulgas.
Culinária
Utilizada para temperar carnes muito gordas.
Curiosidades
A bebida absinto, grande inspiradora de muitos artistas,
pintores e poetas – incluindo Fernando Pessoa- do séc. XIX e princípios do séc.
XX está proibido na França desde 1915, por causar dependência e por o seu uso
prolongado poder danificar irreversivelmente o sistema nervoso.
No Jardim
A artemísia faz uns bonitos canteiros devido à cor prateada
das suas folhas, mas atenção esta não deve ser plantada junto das hortícolas
pois exerce um efeito retardador do crescimento destas especialmente nos anos
mais chuvosos. As folhas e raízes exsudam uma substância tóxica –a absintia-
que cai no solo perto da plantas e fica ativa durante muito tempo. Uma leve infusão
da artemísia pode utilizar-se na pulverização de árvores de fruto para combater
algumas pragas. Quando plantada nos galinheiros, repele os piolhos.
Precaução
Não utilizar durante a gravidez ou a amamentação.
Fernanda Botelho 2006